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segunda-feira, 5 de maio de 2014

Diário de Bordo


De mãos acorrentadas,
pelos açoites domadores,
perdemos nossa paz.
nossa humanidade...

Quanto mais navegamos.
em mares negros como anoite,
gélidos como a morte,
condenador de nós,
homens sem voz,
traídos por nós,
que reinam a sós,
em murmúrios,
choros e lamentos,
contrapostos pela dor e solidão...

Senhor Oxalá,
guia-nos deste mundo,
condena o opressor,
deixe esse preto velho viver mais um dia,
sem a dor da chibata,
sem o gosto do sangue,
sem o latejar das correntes no porão deste navio,
andando pelo meio podre da carcaça e fezes de nossos irmãos já levados...

Pobres pequenos, que não sabem seu fim,
espero apenas que seja melhor que o meu,
ja velho e de cabeça quase branca,
vejo esses pobres homens e mulheres,
acorrentados,
esquartejados,
durante essas idas e vindas.

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